Convidamos vocês a refletir, hoje, sobre a situação que vivenciamos em relação à mulher em seu contexto histórico, político e social. Sabemos que muito se fala a respeito da necessidade de combater a violência de gênero e buscar uma situação de igualdade, mas é preciso aprofundarmos um pouco mais.

A violência de gênero tem uma vítima certa: a mulher, que em diversos contextos é agredida e colocada em uma posição de inferioridade, até mesmo dentro de seus próprios lares e famílias.

Passamos por um longo e árduo caminho na busca por nossos direitos, mas a batalha está longe do fim. Mesmo que tenha havido um significativo progresso, como uma atuação mais incisiva no mercado de trabalho e no campo político e social, ainda há uma série de obstáculos que são mais frequentes do que possa parecer em um primeiro momento.

Nosso passado bem recente demonstrava uma inferioridade da mulher até mesmo dentro do núcleo familiar, ou seja, em suas próprias casas, quando precisavam de autorização do marido para as coisas mais básicas, como trabalhar fora de casa e morar em outro lugar. 

Não faz muito tempo também que as mulheres não podiam votar, foi em 1934! Em uma perspectiva mais geral, foi logo ali na esquina.

Muito se engana quem pensa que a violência que as mulheres sofrem é apenas física ou emocional. A violência e a desigualdade de gênero são problemas estruturais.

A nossa construção como sociedade impacta diretamente na forma como vemos uns aos outros. Se dentro de casa aprendemos que “mulher é isso”, “mulher pode aquilo”, “homem é assim”, “mulher é assado”, é preciso um trabalho árduo para desmistificar e desconstruir.

A criança não nasce achando que homens e mulheres não são iguais. Isso não é da natureza das crianças. Elas aprendem pelo exemplo, pelo que presenciam em casa e acabam reproduzindo comportamentos. Isso ajuda a perpetuar a normalização de colocar a mulher em estereótipos perigosos. 

Por séculos, vigendo o patriarcado, o homem necessariamente ocupava posição de sobreposição em relação à mulher. Os papéis eram bem definidos: o homem devia ser o provedor da casa, aquele quem trabalha fora e chefia a família.

Por conta dessa forma de construção social, a visão do homem como mais forte, física e emocionalmente, devendo fazer valer suas vontades e ambições nos rodeia, nem sempre de forma explícita, mas de forma a estar constantemente presente, gerando uma situação de extrema desigualdade.

Como podemos perceber isso na prática? É simples: pense em grandes empresas. Quantas delas possuem mulheres com cargos altos de liderança? Quantas CEO’s mulheres você conhece? Com certeza conhece algumas, mas não muitas. Isso é constatado em dados. 

Não só na inferioridade numérica em cargos de liderança podemos ver desigualdade entre homens e mulheres: na remuneração pelo trabalho prestado, é possível identificar que pessoas ocupando a mesma função e desempenhando o mesmo cargo nem sempre recebem o mesmo salário! Mulheres recebem menos realizando as mesmas funções.

As dificuldades não param por aí: muitas vezes, empregadores batem no peito para dizerem que não contratam mulheres, pois elas engravidam. Além dessa prática ser discriminatória e criminosa, a maternidade é um direito fundamental e jamais pode ser usada em desfavor da gestante.

Além disso, temos o caráter social do preconceito e dos estereótipos formados em relação às mulheres. Há expectativas sociais: a mulher pode trabalhar, mas jamais pode colocar o trabalho na frente dos filhos. A mulher não pode amamentar em público – é “inapropriado, imagine, um seio”, que demonstra a clara objetificação da mulher!

Se o pai muda de cidade por questões de trabalho, está sustentando a família e a mulher lhe deve gratidão; se a mãe muda de cidade por conta de trabalho, está abandonando o filho. Se o pai é solteiro, é um guerreiro, um lutador. Se a mãe é solteira, ela é tratada de forma pejorativa, sendo associada à promiscuidade e ausência de controle sexual.

Espera-se da mulher “casa, comida e roupa lavada”! E “ai” dela se não fizer isso. A vizinhança inteira vai falar nas suas costas, vai virar o assunto da cidade. Mulher tem que cuidar dos filhos, da alimentação de todos os integrantes da casa – inclusive do cônjuge – e da limpeza de tudo!

Em tempos de pandemia, quantos homens estavam / estão levantando os pés para cima, dizendo serem os provedores da casa e por isso não possuem obrigação de colaborarem com a manutenção e organização? Apesar de isso não ser o que acontece em todas as hipóteses, relatos desse tipo são bem frequentes.

E se a mulher, além ou apesar das obrigações “do lar e do marido” decide trabalhar também, ainda tem que lidar com a estigmatização de algumas profissões. As profissões de passadeira, lavadeira, empregada doméstica, cozinheira, faxineira, costureira geralmente são ocupadas por mulheres e são enxergadas socialmente como de um padrão de vida inferior, ‘menos relevantes”.

Por outro lado,e os cargos que são compostos prioritariamente por homens são desejados e aplaudidos: cargos públicos e políticos, alto escalão de empresas, dentre outros cargos em que é possível ver uma desigualdade numérica muito grande em relação ao gênero, seja por estigma social, seja por inexistência de oportunidades inclusivas.

Há também uma forte presença da violência de gênero no cunho social, em relação às próprias expectativas do coletivo: as pessoas separam as mulheres em categorias e criam normas de comportamento às quais se espera que elas se encaixem. Essas normas são padrões culturais, valores familiares e tradicionais e se a mulher destoa disso, é julgada. 

Quando você se depara com os altíssimos números de violência de gênero, que inclusive podem evoluir para um feminicídio, você começa a perceber que o problema é mais profundo do que parece. Isso é só o começo. A naturalização da violência contra a mulher vai ocupando espaços nas famílias e nos grupos de amigos.

As pessoas não interferem em casos óbvios de violência. Ficam com medo de incomodar e gerar transtornos sociais, incômodos. Veem casos, inclusive, de agressões físicas e se calam. Muitas vezes, pela inatividade de terceiros, a vítima é ameaçada até, um dia, ser assassinada.

É importante que percebamos, por tudo isso, a grande necessidade de movimentos feministas, que buscam pela igualdade de gêneros e pela proteção da mulher. Batalham pela igualdade de direitos e oportunidades e a não objetificação do corpo feminino e pelo respeito à mulher. 

 A partir do momento que passamos a enxergar a mulher como igual na sociedade – apesar de isso estar estampado de forma cristalina na Constituição – será possível ver, no mundo real, a igualdade material, a isonomia do tratamento entre todos. 

É preciso que isso saia do papel e ganhe as ruas: a mulher tem todos os mesmos direitos que os homens. É preciso que os grupos sociais e as famílias se conscientizem sobre a violência que a mulher sofre em diversos campos de sua vida, que percebam que existem comportamentos extremamente prejudiciais à sociedade como um todo em objetificar e colocar a mulher em posição de desigualdade.

A mulher precisa de oportunidades para mostrar a que veio. Ninguém é capaz de parar uma mulher que seja tratada como ela merece: como igual.

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