Nina:

Quantas vezes você foi na praia e ficou procurando alguma coisa para tampar a barriga?

Quantas vezes você recusou um convite porque sabia que lá ia ter piscina e todo mundo que estava indo era magro? Quantas vezes você olhou seu corpo no espelho e ficou procurando e enumerando cada um dos seus “defeitos”? Quantas vezes você seguiu no Instagram uma musa fitness que só come alface e toma água e se sentiu um lixo?

Uma coisa que eu sempre penso é que a gente nunca se trata tão bem quanto tratamos as nossas amigas. Vejo você, Clara, e vejo a Mari, e quero que vocês se sintam lindas, maravilhosas, completas. Que vocês se admirem e se amem. Mas quando o tratamento é para mim mesma: cobrança, julgamento, autodepreciação.

Sei que essa história vai soar familiar para a maioria de nosso público, porque desde novinhas aprendemos a nos odiar. Um dia vi um vídeo de uma menininha bem pequena e super magrinha – até se não fosse – chorando, falando que estava gorda. Aquele vídeo me chocou e me doeu.

Como já falei aqui em outras oportunidades, as crianças não nascem preconceituosas e muito menos querendo se sentir inferiores. Se você ensinar amor próprio e respeito a uma criança, é isso que ela vai difundir (em regra, né). Mas se você não ama a si mesma e não se respeita, se despreza a sua própria imagem, mesmo que seja de forma silenciosa, a criança vai carregar isso com ela também.

Voltando aos adultos. 

A gente liga a TV e vê nos reality shows as pessoas musculosas, “trincadas”, barriga seca. Um dia desses fui reassistir a aquele filme Simplesmente Amor e no filme, umas três vezes, ficaram fazendo piada falando que uma personagem era gorda, com as pernas roliças e coisas do tipo. Não precisava nem te dizer – você já deve estar imaginando- que era uma atriz magra. Se a atriz magra do filme é chamada de gorda e julgada de forma pejorativa por sua aparência, como ficam as pessoas que assistem aquilo? Beleza, o filme é antigo, mas a lógica está valendo.

O Instagram, na minha opinião, é o lugar mais propício para você ver pessoas saradas, magras e aparentemente felizes e se frustrar com você e a sua própria vida.

As pessoas perdem a noção do que deve ser o parâmetro: você pode se comparar com você de um dia, uma semana, um mês, sei lá, dez anos atrás. Mas jamais se comparar com as outras pessoas. 

Você nunca vai ter um corpo idêntico ao de uma outra pessoa e nem deveria querer isso. Cada um possui um formato, uma composição corporal de músculos e gordura, ossatura, estilo de vida, heranças genéticas, hábitos, exposição ao ambiente. Se nem gêmeos idênticos são iguais, por que insistir em se comparar com alguém que você nem conhece?

Não por menos do que isso, como estamos trazendo essa semana, os índices de cirurgias estéticas no Brasil são de cair o queixo. As pessoas querem “consertar” o nariz, a barriga, as costas, a boca, as coxas, a bunda. Nada fica a salvo.

Não que eu esteja julgando uma cirurgia plástica. Longe de mim. Cada um sabe de seu contexto, vivência, necessidade e autoestima. O que quero levantar a reflexão é de como a sociedade, de forma direta a indireta, exige que todos se encaixem em padrões que só existem nos ensaios fotográficos cheios de retoque, nos programas de TV com pessoas que vivem por sua imagem e nas redes sociais.

A cada dia vejo que as pessoas estão mais “parecidas”, com suas harmonizações faciais, preenchimentos e desprezo por si mesmas. O que você acha, Clair?

Clair:

Olha, acho que a cada dia que passa o trabalho de se amar parece ficar mais difícil, principalmente para as meninas e mulheres.

A pressão estética é sufocante e quando falamos em pessoas do gênero feminino a sociedade parece esperar padrões ainda mais impossíveis e renegar ainda mais quem não se encaixa neles. 

Comecei a ler um livro da Naomi Wolf, chamado “O Mito da Beleza”. Nele, ela ilustra de forma incrível como o mundo usa o “padrão de beleza” inalcançável para controlar e moldar as pessoas, principalmente as mulheres. É uma leitura quase obrigatória para compreendermos a profundidade da pressão estética e da gordofobia na nossa sociedade.

A angústia que isso gera é algo muito difícil de controlar e identificar. São atitudes quase automáticas que acabam adoecendo as mulheres e meninas, uma busca pela magreza e que, muitas vezes, quase sempre, é confundida com saúde, uma busca pela perfeição, por uma falsa simetria, por um rosto ideal baseado em padrões racistas e irreais. 

Por isso, é muito importante que a gente comece a fazer um trabalho consigo mesma e com todas as pessoas ao nosso redor: magra/magro não é elogio, gorda/gordo não é xingamento, falar do corpo alheio não é aceitável, criticar o que o outro come não é ok, associar magreza a felicidade mata, associar gordura a doenças também mata. Pra que isso funcione, um exercício importante é o de respeitar e amar o próprio corpo, e como isso é difícil!!!!! Não se enganem: a gente vai ficar tentando amar o próprio corpo muito tempo até conseguir, e mudar o nosso corpo não vai tornar isso mais fácil. 

A comida, o exercício, o estilo de vida, isso tudo tem que ser definido de acordo com o que você acha que te faz bem, e nunca porque alguém na internet te disse que isso é importante.

Eu tento fazer esse exercício todos os dias. Não é fácil, ainda não consegui chegar ao ponto de dizer que amo meu corpo e aceitá-lo com todas as suas marquinhas, mas tento muito e quero muito chegar lá. Vamos todos e todas juntas? 

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