A gordofobia é um fenômeno cultural.
Podemos identificá-la desde muito cedo, dentre crianças de pouca idade, na repetição de padrões sociais. Já nas escolas, as crianças aprendem entre si – e também pelo que escutam em casa – como discriminar o diferente. Assim, estão sempre apontando pessoas que não se enquadram em padrões, tratando-as de forma vexatória, desencadeando uma série de problemas psicológicos, principalmente em vítimas de tenra idade.
Não apenas entre crianças, mas inclusive na vida adulta, pessoas gordas sofrem bullying, no ambiente físico e também no virtual. De forma lamentável, é possível observar nas redes sociais e na internet como um todo os comentários que são tecidos, impiedosamente, sobre pessoas que não se encontram no inalcançável padrão de beleza.
A sociedade normaliza pequenas agressões. Banalizamos as piadas de caráter pejorativo. Quando alguém critica ou repudia esse tipo de comportamento, é obrigado a ouvir a fábula do “mimimi”, que a sociedade agora é “chata”, e que não se pode fazer piada sobre mais nada.
Na realidade, nos últimos anos, as pessoas passaram a se auto-observar, na tentativa de não propagar ainda mais os discursos preconceituosos e repletos de ódio, que até pouco tempo eram tido como normais e aceitáveis.
Nesse sentido de um policiamento mais eficaz de falas impregnadas de preconceito, é importante falarmos também de uma tendência moderna de se falar em aceitação de si, do próprio corpo e das pessoas em geral, abraçando as diferenças. Uma dessas manifestações diz respeito, justamente, ao repúdio à gordofobia.
Devemos perceber que o corpo de cada um, a si mesmo pertence, e que não necessariamente o corpo gordo está associado com problemas de saúde – que é algo alegado de forma ignorante por muitas pessoas.
A ideia de se sentir confortável em seu próprio corpo é algo que está caminhando a passos lentos, embora estejam sendo difundidos diversos movimentos nesse sentido, buscando afastar a sociedade de padrões de beleza que não são reais, muito menos saudáveis, levando às pessoas a se aceitarem em suas peles, em seus cabelos e, principalmente, em seus corpos.
O que muita gente não sabe é que assim como qualquer outra forma de preconceito, a gordofobia gera reflexos jurídicos, uma vez manifestada. Embora não exista um tipo penal específico para tutelar esse tipo de conduta, é possível – e frequentemente ocorra – que haja condenação na esfera cível, pela reparação de eventuais danos causados, como morais e materiais.
Existem, inclusive, inúmeros casos na jurisprudência brasileira, facilmente encontrados por meio de uma busca em sites de busca. É importante ressaltar que vários desses casos tratam de fatos ocorridos dentro do ambiente de trabalho, sendo que alguns já chegaram ao Tribunal Superior do Trabalho, como o caso de uma cozinheira que sofreu ataques gordofóbicos em seu ambiente e trabalho e a empresa que a contratou foi condenado ao pagamento de indenização de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
A depender do discurso, é possível, ainda, o enquadramento no crime de injúria, previsto no art. 140 do Código Penal.
A vítima da prática de gordofobia pode realizar denúncia na Delegacia da Polícia Civil, ou, caso o crime tenha sido praticado pela rede mundial de computadores, na Delegacia especializada em Crimes Cibernéticos.
Todos merecem respeito e nunca podemos nos esquecer dos impactos psicológicos que um trauma de preconceito pode acarretar em uma pessoa, podendo levar a uma brusca diminuição da autoestima, ansiedade, depressão e até mesmo o suicídio.
Você pode contribuir ao combate à gordofobia passando a se observar em sua fala e em seus pensamentos, inclusive em seus grupos sociais e familiares, reprovando qualquer tipo de comportamento que vise agredir o outro! Vamos juntos?