Este post foi construído em parceria entre Mari e Clara.
Para falarmos sobre os movimentos feministas no Brasil, um ponto importante é relembrarmos o que é o conceito mais básico de feminismo e onde ele nasceu. O feminismo tem como berço a Revolução Francesa, em que surgiu como uma luta organizada de mulheres pela igualdade de direitos e deveres em relação aos homens.
Desde então, as reivindicações do movimento foram mudando e se moldando em diferentes vertentes, mas todas elas possuem um ponto em comum: a equidade de gêneros.
No Brasil, a Ditadura Militar (1964 a 1985) pode ser considerada um ponto de renascimento da força da luta feminista no país, que ressurgiu com o objetivo de enfrentar as consequências da forte supressão de direitos individuais do regime militar que exacerbaram as desigualdades de gênero.
Segundo alguns historiadores foram TRÊS fatores principais e possibilitaram a eclosão do movimento feminista no Brasil nas décadas de 70 e 80:
- O Ano Internacional da Mulher instituído pela ONU em 1975. Esse reconhecimento oficial pela ONU, trouxe a questão da mulher como problema social e autorizou que movimentos sociais que ainda atuavam nos bastidores abrissem, passando a existir grupos políticos e públicos de mulheres.
- A modernização que o Brasil passava desde os anos de 1950 e a influência de movimentos sociais que aconteciam na América do Norte, como lutas feministas nos Estados Unidos, o movimento Black Panthers, os pacifistas que lutavam contra a Guerra do Vietnã e o surgimento da pílula anticoncepcional.
- O contexto militante que existia no Brasil. O cenário de lutas contra o governo ditatorial militar que se iniciou em 1964 e passou pelos “anos de chumbo” – entre 1974 e 1979 – durante o governo do ditador Geisel. Surgindo uma emergência para levantamento de críticas e questionamentos sobre o papel social da mulher na sociedade brasileira.
O movimento feminista brasileiro se iniciou nas camadas médias da sociedade. Eram mulheres intelectualizadas e elas se autodenominavam “movimento de mulheres”. Eram movimentos de bairros, pequenas associações que foram crescendo e expandindo permitindo então uma comunicação entre classes e outros grupos sociais.
Anos 80
Em 1979 com o INÍCIO DO FIM DA DITADURA MILITAR e a ANISTIA DOS EXILADOS, houve o encontro das feministas exiladas, que trouxeram a experiência do exterior (aquelas que puderam ter trocas), com as feministas que ficaram no Brasil e construíram um feminismo local. Esse encontro foi transformador.
“Nos anos 1980 o movimento de mulheres no Brasil era uma força política e social consolidada. Explicitou-se um discurso feminista em que estavam em jogo as relações de gênero.”
Diante disso, os chamados de “movimento de mulheres” se alastraram pelo Brasil como uma força social e política e se consolidaram em diversos espaços.
Nesse mesmo período, o movimento feminista começou a participar de associações profissionais, partidos e sindicatos.
Muitos grupos feministas iniciaram uma atuação mais especializada e profissional, sendo que alguns deles se tornaram ONGs e foi nesse momento que houve uma busca por influenciar as políticas públicas.
Em 1988, foi finalmente vislumbrado o saldo positivo de todo esse processo: a alteração do lugar da mulher na Constituição Federal de 1988, que extinguiu a tutela masculina na sociedade conjugal.
O movimento “Quem Ama Não Mata”, foi criado em Belo Horizonte em agosto de 1980.
As mortes de Eloísa Ballesteros (julho de 1980) e Maria Regina Souza Rocha (agosto de 1980), que foram assassinadas pelos maridos, fomentaram o ato que reuniu cerca de 400 mulheres na escadaria da Igreja São José, em Belo Horizonte em agosto de 1980.
Esse foi um dos grupos que marcaram e pressionaram o segundo julgamento do Doca Street, em 1981.
Jornais Brasil Mulher e Nós mulheres, os primeiros jornais femininos.
Em 1975 surgiu o primeiro jornal dirigido e feito por mulheres: o Brasil Mulher, que era publicado pela Sociedade Brasil Mulher. O segundo jornal, Nós Mulheres, era publicado pela Associação de Mulheres, e circulo de 1976 a 1978.
“O fato de estarem vinculados a uma associação já mostra que esses jornais eram instrumentos de divulgação de coletivos de mulheres organizadas e, como tal, davam cobertura a assuntos não veiculados pela imprensa oficial, na época sob forte censura política, refletindo o pensamento político da militância feminista.”
Capa do jornal Brasil Mulher – Acervo reprodução
Fontes de pesquisa:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2003000100014
SARTI, Cynthia Andersen. O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma trajetória. Revista Estudos Feministas: Florianópolis, 2004.
https://www.camara.leg.br/internet/agencia/infograficos-html5/constituinte/index.html
Acervo Estado de Minas